A descoberta da narrativa


Deslocamentos espaciais circunavegantes no espaço habitado
(VI Encontro Anual da Associação dos Artistas Plásticos do Pará 2004).




“Entre a Arquitetura e Sombras” (2004)

Na exposição referente ao 6º Encontro dos Artistas Plásticos do Pará, apresentei o mesmo conjunto de trabalhos da exposição evidência, só que, desta vez, as três gravuras da série estavam dispostas separadas umas das outras, criando com isto, uma nova possibilidade de apreensão e narrativa.
O conceito de narrativa seria de grande valia daí em diante, pois a partir do momento em que expus este conjunto de trabalhos, ele seria o cerne da série de cadernos de artista que produziria no futuro.
Fragmentar uma idéia era fundamental, pois, sem perceber, estava criando um dos aspectos marcantes de minha produção, que é uma espécie de “poética de fragmentos”, onde partes são apresentadas com o intuito de formar um todo conceitual. Por isso que os trabalhos seguintes se manifestariam com técnicas e conteúdos aparentemente distintos, frutos de forte influência da obra de Duchamp. Como exemplo da obra desse artista que aborda este conceito, temos “O Grande Vidro” (1923). As partes que compõem essa obra são dispostas de duas formas, a fim de que possamos juntar essas duas partes, buscando decifrar um enigma proposto por elas.
Desta forma, além de multiplicar a possibilidade de apreensão, eu estava criando uma relação da técnica de xilogravura com a técnica da escultura, ou ainda das relações entre espaços cheios e vazios, já que a fonte do trabalho eram estruturas espaciais presentes na cobertura de minha casa. O conceito de narrativa surge, justamente, de uma análise circunavegante de objetos espaciais, fragmentados e reapresentados em partes.
Se observarmos atentamente este conjunto de trabalhos, perceberemos que os espaços em branco ou vazios buscam representar conotações espaciais. O papel não é apenas o suporte para impressão das gravuras, agora ele é incorporado como elemento constitutivo do conceito que rege a criação do objeto artístico. A arquitetura é justamente o motivo, pois ela representa um desenho espacial, um meio de construir edificações.
Estas análises espaciais não estão representadas em uma construção de objetos tridimensionais, mas elas partem de meu deslocamento no espaço habitado. Este movimento provoca uma forte reflexão e o passo seguinte será revelado na construção de um caderno, que terá como conceito um deslocamento do interior de meu quarto ao exterior de minha casa.
Mais uma vez estes objetos têm seu título a palavra “sombra”, o que significa vestígio. Ou seja, a série “Entre a Arquitetura e as Sombras” tem uma conotação de buscas de projeções espaciais. Partindo das reflexões provocadas pelas xilogravuras, minhas pesquisas buscaram analisar o espaço habitado de outra forma.






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