Desconstruindo a linguagem gráfica.


Uma paisagem “sem título”

 (3ª Bienal de Gravura de Santo André, Paço Municipal de Santo André – SP, 2005).



“Sem Título”  1 frente                       

 “Sem Título”  1  verso                                
 

 “Sem Título”  2 frente  


“Sem Título”  1  verso 


Série “Sem Título” (2006). Xilogravura e monotipia (técnica mista).

A dupla paisagem “Sem Título” apresentada na Bienal de Gravura de Santo André, carrega uma forte influência de Mira Schendel ao meu processo criativo. Este duplo gráfico, agora, além de ser mais experimental, ao que se refere ao uso da técnica, era um misto entre monotipia, colagem e xilogravura. Estes trabalhos foram construídos no período que eu estava produzindo pinturas que iriam compor a instalação “Ascese”. As técnicas haviam se fundido durante o processo de realização dessas pinturas. Durante o processo criativo, somos impulsionados a experimentar, de várias formas, conceitos que haviam sido introduzidos em determinado momento da trajetória artística, o que também ressalta a influência das experiências absorvidas com o pensamento e obra de Mira Schendel.
O duplo “Sem Título” consiste em investigações gráficas. A materialidade do papel é explorada como aspecto importante da criação. O papel arroz tem o poder muito grande de absorver a tinta, por isso que é um dos mais utilizados para xilogravura. Este alto poder de absorção cria um jogo interessante entre sua frente e seu verso, pois parece que a tinta penetra dentro de sua estrutura, o que faz parecer que ela sempre esteve ali, dentro do papel. Não há como obter o mesmo efeito em outros papéis, em que a tinta parece estar depositada sobre sua superfície. Quando fazemos monotipias no papel arroz, as linhas do desenho surgem de dentro do papel. Isto é nítido quando olhamos uma das monotipias de Mira ou o verso da obra “Sem Título”.
Este aspecto me incitou a criar estas gravuras, onde não apenas os traços ou as impressões contavam. A materialidade da gravura era alterada com o uso do acetato, que permitia que ela se mantivesse rígida e como o acetato é transparente, sua rigidez não impedia que ele revelasse as estruturas internas na obra.
Reforcei a idéia entre frente e verso, criando um jogo entre as formas abstratas impregnadas no interior do papel, para que fossem uma variação formal do que se via na frente. Outro aspecto interessante era que, quando expostas suspensas no ar e circundadas no espaço, elas criavam um jogo de transparência, onde o que estava atrás se via na frente e assim sucessivamente.
As xilogravuras foram extraídas de matrizes que possuíam uma forte expressão matérica. Os veios eram bem expressivos, o que ajudava a compor um jogo natural de linhas expressivas e fazia com que estas linhas estivessem intimamente relacionadas às linhas e manchas características da monotipia. O duplo abstrato, que investiga a matéria e a forma como lâminas de um exame laboratorial, serviu como um importante estudo sobre a matéria e a característica expressiva que se pode extrair delas.

A Gravura em Belém 3ª Bienal de Gravura de Santo André, Paço Municipal de Santo André – SP, 2005.[artista convidado].




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