“A Pele do Invisível” de Pablo Mufarrej e Ricardo Macêdo – Museu
de Arte Contemporânea Casa das Onze Janelas [Prêmio SECULT de
Artes Visuais] 2010
A pele do invisível
Este trabalho propõe que prestemos atenção ao mínimo, ao ignorado
e ao trivial – as camadas epidérmicas da folha, a vida dentro de uma gota de
água ou as cores de uma mosca – no intuito de enfatizar as relações que mantêm
e sustentam a vida dentro de um contexto biológico. Mas, quais seriam as
características visuais figurativas e abstratas desses elementos? Qual seu
potencial estético? Como ressignificar esses elementos através do olhar
artístico?
Uma das alternativas é ampliar sua visualidade: suas formas e suas
cores. Retirando-a do “invisível” e colocando-a à disposição de nossa percepção
e de nossos sentidos, de forma que nosso olhar consiga abarcar o que geralmente
no dia-a-dia nos é imperceptível.
O poeta Manoel de Barros dava importância às coisas aparentemente
sem importância, em um poema do seu livro “retrato do artista quando coisa” ele
diz:
Aprendo com as abelhas do que com os aeroplanos.
É um olhar para baixo que eu nasci tendo.
É um olhar para o ser menor, para o
insignificante que eu me criei tendo.
O ser que na sociedade é chutado como uma
barata – cresce de importância para meu olho.
Ainda não entendi por que herdei esse olhar para baixo.
Sempre imagino que venha de ancestralidades machucadas.
Fui criado no mato a prendi a gostar das
coisinhas do chão –
antes que das coisas celestiais.
Pessoas pertencidas de abandono me comovem:
tanto quanto as soberbas coisas ínfimas.
Na busca de uma percepção mais fina de elementos quase ignorados,
os artistas Ricardo Macedo e Pablo Mufarrej nos convidam a uma lenta e
contemplativa observação das possíveis leituras estéticas desses elementos
“insignificantes”, em uma contra-mão do ritmo frenético da vida nas grandes
cidades, um convite à observação e à meditação.
Ricardo Macêdo
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